Neste artigo trataremos de um projeto em uma entidade que atua na prestação de serviços médicos e hospitalares há mais de 100 anos. Referência de qualidade em serviços de saúde no Brasil, atende desde pequenos procedimentos até cirurgias de alta complexidade nas áreas de Cardiologia, Cirurgia Geral, Neurologia, Oncologia, Ortopedia e Pediatria.
O projeto aconteceu numa área conhecida pela sigla CME, Central de Material Esterilizado ou Central de Material e Esterilização, depende do hospital. Essa área é responsável por todos os materiais que vão para as salas de cirurgia. Os materiais utilizados em cirurgia são transportados para o CME, onde são limpos, preparados e embalados para que possam, ao final, serem esterilizados e utilizados novamente.
No CME desta entidade não havia regras claras para o uso consciente dessas embalagens, o que abria espaço para dois grandes problemas: (1º) a constante escolha dos funcionários por opções mais caras de embalagem, que priorizavam a praticidade e não o manejo de custos, e (2º) preparo de pacotes de tamanhos acima do ideal, consequência da ausência de padrões pré-estabelecidos e de equipamentos que facilitassem a medição. A soma desses aspectos gerava custos desnecessários para o CME (piora de +30%), prejudicando o resultado financeiro da Diretoria de Operações como um todo. É uma área que precisa funcionar como linha de produção e com isso algumas orientações, como por exemplo, priorizando (apenas a) rapidez, faziam com que as escolhas fossem equivocadas.
Ao iniciarmos o projeto, vimos que 5 (cinco) itens representavam 80% do desperdício total, além de serem os mais utilizados em cirurgia: (1) Cúpula P, (2) Kit Curativo, (3) Kit Manopla e Cuba Rim, (4) Cúpula M e (5) Cúpula G. Além da inexistência de ferramentas adequadas para o correto preparo e selagem das embalagens desses itens para uma próxima cirurgia, outro ponto importante é a imprevisibilidade da demanda quando se trata de cirurgias de urgência, o que só corroborava para a equipe utilizar embalagens mais caras (com uma extremidade já selada e por isso mais fácil de embalar).
A priori, a expectativa que nos foi passada pelo cliente era a redução dos gastos com embalagens via uma possível padronização por tamanho vs. instrumental, além de uma manutenção do consumo médio de acordo com a produção de item esterilizado.
Para começar a alterar esse cenário, pensou-se em algumas ações:
- Realinhamento de metas. A relação “tempo para embalar vs. custo”, merecia ajuste;
- Reeducação dos funcionários quanto à utilização do material. Uma visível falta de padronização e treinamento era sentida na área;
- Desenvolvimento de um novo instrumento para facilitar o corte e manuseio do material, evitando perdas de eficiência;
- Substituição dos envelopes (mais caros) por rolos (mais baratos), onde possível;
- Por fim, revisão e melhor planejamento do estoque.
Além de tratarmos de questões comuns dentro de uma consultoria envolvendo Gestão de Custos, endereçamos também a criação de protótipos junto com parceiros da área de Engenharia, para desenho e criação de novas ferramentas para melhora de eficiência da área.
Essa foi a grande “cereja do bolo” neste projeto.
Fora o escopo envolvendo a realinhamento de metas, a reeducação dos funcionários e a melhoria do planejamento do estoque, este projeto foi além. Algo que costumo dizer, há muito tempo, é que os clientes não querem “apenas papel, eles querem ver o projeto entregando uma solução”. Neste caso, materializamos o protótipo da nova ferramenta, testamos sua utilização e o cliente entrou com um processo de patente, “formalizando” sua utilização, com a possibilidade de venda (caso queira) desta nova ferramenta para outros CMEs.
Mesmo se tratando de uma área de apoio, dentro da Diretoria de Operações, a colaboração deste projeto para a melhoria do resultado financeiro da Diretoria foi importante e girou em torno de 15% de redução anual do gasto com embalagens. Considerável, mas na minha opinião, não foi o mais importante neste projeto. A inovação que foi entregue ao cliente é que foi o mais relevante neste caso. Algo que nem sempre conseguimos entregar em projetos puros de Consultoria de Gestão (seja de Custos ou de outra área), mas que só foi possível com a junção de especialidades. Muito trabalho em conjunto, discussões, madrugadas a fora para testes e, principalmente, um desejo puro de resolver (de fato) o problema do nosso cliente.
Esse projeto foi surpreendente do início ao fim. De início o ambiente de trabalho, às vezes até dentro de uma UTI, tendo que seguir todos os aspectos imunológicos e de segurança exigidos. Depois, trazer a Engenharia para dentro de um projeto de Gestão de Custos, para a criação de novas ferramentas até então inexistentes. Cada passo desse projeto trouxe aspectos relevantes e novas experiências que o tornaram tão interessante e único.
Espero encarar desafios similares em um futuro próximo…
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